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Exportação de micro e pequenas empresas segue sem decolar

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Com o boom das commodities, as vendas externas do Brasil triplicaram entre 2003 e 2012. O cenário de crescimento expressivo dos negócios internacionais, entretanto, não foi suficiente para o comércio exterior deslanchar entre as micro e pequenas empresas. Cada vez mais, elas diminuem sua participação na atividade.

Durante 15 anos, as mudas de orquídeas fornecidas pela Ricsel, de Porto Alegre, floresceram nos quintais norte-americanos, canadenses, ingleses, japoneses e de tantas outras localidades ao redor do mundo. Na medida em que os cultivares de origem brasileira eram semeados em solo estrangeiro, o caixa da empresa era regado com dólares. Em algumas temporadas, essa receita chegava a significar 50% do faturamento. Em média, fechava-se até 15 negócios anuais, cada um rendendo entre US$ 2 mil e US$ 3 mil.

Tudo mudou em 2012, quando a companhia desistiu da atividade e passou a focar apenas o mercado interno. “Antes, a exportação era mais fácil. Com o tempo, começaram a nos pedir licenças no Ibama, no Ministério da Agricultura, atestado fitossanitário e uma série de documentos. É muita coisa, muito vai para lá e vai para cá”, lamenta Sérgio Englert, dono da Ricsel. Segundo ele, a tarefa ficava dificultada pela vasta quantidade de variedades de orquídeas que a marca trabalha. Ao todo, são mais de 200 tipos no catálogo. E, para cada um deles, é necessário uma documentação diferente. “No mercado interno não tem tanta exigência”, compara Englert. 

A situação vivida pelo orquidário da capital gaúcha não é exceção. De 2003 a 2012, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), centenas de micro e pequenas empresas (MPEs) desistiram de enviar produtos a outros territórios. Esse segmento passou de 9.479 para 9.171 representantes. No período, a contribuição das MPEs na balança comercial caiu de 2,4% a 0,8%. Em valores, as vendas até aumentaram de US$ 1,73 bilhão para US$ 1,78 bilhão, um ajuste de 2,9%. O índice, porém, fica muito abaixo da expansão de 332% constatada na exportação brasileira como um todo. Impulsionadas pelo boom das commodities, as transações verde-amarelas saltaram de US$ 73 bilhões para US$ 242,5 bilhões.

Se forem computadas as vendas fechadas por meio de tradings comerciais, o desempenho é um pouco melhor. “Em 2013, até novembro, as tradings exportaram US$ 21,6 bilhões. Não temos especificado o porte de cada empresa, mas cerca de US$ 1,4 bilhão pode ter sido vendido por companhias de menor porte. Isso representaria seis vezes o valor comercializado por essas empresas (de até US$ 100 mil/ano) por conta própria”, estima Lilia Miranda, diretora executiva da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece). Mesmo assim, a dirigente reconhece que a participação desse nicho poderia ser maior. 

Além das questões burocráticas, diversos fatores influem na timidez das pequenas companhias na hora de cruzar fronteiras. “As MPEs, muitas vezes, acabam fazendo produtos específicos, de maior valor agregado, e não conseguem produzir em escala. Por isso, o custo para exportar é alto. A saída para elas é se organizar e buscar o auxílio de entidades setoriais”, diz o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Guilherme Risco. Por outro lado, as barreiras impostas por alguns dos principais parceiros comerciais, como a Argentina, também afastam potenciais exportadores. 

O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Fábio Faria, acredita que as oscilações na taxa de câmbio ocorridas ao longo da última década têm sua parcela de culpa na diminuição de micro e pequenas empresas nas vendas internacionais. “Quando o dólar estava na casa dos R$ 3,00, havia mais exportadores do que quando estava em R$ 1,60. O risco cambial afasta muitas empresas, pois reduz as margens de lucro. E as pequenas acabam sentindo mais a oscilação. As grandes conseguem mecanismos de proteção, como o hedge (congelamento da cotação)”, explica.

Na comparação com outras nações, o Brasil perde de goleada quando o assunto é a participação das MPEs nas negociações com o exterior. Na Itália, por exemplo, elas respondem por 30% da pauta. Nesse sentido, a logística surge como outro obstáculo para as companhias brasileiras e, de certa forma, interfere na baixa adesão no País. “O Brasil é um continente, por isso muitos preferem ficar somente no mercado interno. Nossos principais compradores, como Estados Unidos e Europa, estão muito distantes. E o transporte de longo curso aqui, seja aéreo ou naval, é caro, o que reduz a competitividade do produto brasileiro”, menciona Faria.

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